



quem é você numa realidade maçante de identidades idênticas?
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Um estudo da página3 para voltarmos a pensar por conta própria e nos reconhecer em uma multidão de todo mundo.
Abordamos o conceito de identidade e como ela está se diluindo em uma sociedade de pessoas cada vez mais parecidas entre si.
Prólogo
Mais dos outros
No primeiro capítulo, damos luz àquilo que perdemos quando nos unificamos aos outros:
Primeiro capítulo
Menos de nós
I. menos cultura
II. menos espontaneidade
III. menos expressão
IV. menos sensibilidade
V. menos crítica
VI. menos responsabilidade
VII. menos lucidez
VIII. menos elos
No segundo capítulo, trazemos cinco recomendações para voltarmos a nos reconhecer e valorizar nossa própria identidade:
Segundo capítulo
Mais de nós
I. sopa de letrinhas para um
cérebro faminto
II. desinflar o ego para inflar o
conhecimento
III. a IA navega rápido, mas nós
que estamos no comando
IV. o vício em pensamento
crítico nos torna dependentes da cultura
V. razão e ação, nossa rima
preferida
Concluímos o estudo destacando a identidade humana como o principal contraponto ao mais do mesmo.
Epílogo
De volta a si mesmo

como fizemos este estudo
04 entrevistas em profundidade + review de artigos, vídeos e publicações online
Conversamos e ouvimos especialistas no assunto: psicanalistas, antropólogos, pesquisadores, professores, neurocientistas e filósofos.
1.
600 entrevistas, margem de erro = 4 p.p
Mapeamos a percepção dos brasileiros sobre o assunto e como eles se sentem em relação as suas identidades
2.
mais dos outros
conseguimos criar um egoísmo ao contrário, em que só temos olhos ao umbigo alheio
prólogo
É a partir dessa identidade que nos envolvemos coletivamente com um grupo, sentindo-se parte dele. Sentindo-se pertencente. A questão é que pertencer não significa parecer, ser igual.
E, quando olhamos ao nosso redor, o que vemos é mais do mesmo. Quando as experiências que vivemos e as memórias que criamos se tornam muito parecidas, nos tornamos todos iguais. Nos tornamos mais dos outros, menos de nós mesmos.
De acordo com o filósofo Clóvis de Barros, "a identidade é uma manifestação que permite ao seu enunciador (nós) circunscrever-se e estabelecer uma diferença específica com pretensões de permanência em relação ao que lhe é externo (os outros)."
Para esclarecer essa ideia, ele explica: “todos nós, para existirmos em sociedade, precisamos dizer quem somos.”
“ ”
O que faz de nós, nós mesmos?Somos nós quem definimos quem somos. Está em nossas mãos. A nossa identidade é a construção de uma autoimagem, que fazemos em referência aos outros¹. São as experiências que vivemos e as memórias que criamos que definem quem somos, em cada momento das nossas vidas.
¹Definição Michael Pollak (1992)
dos brasileiros consideram que pensam e agem de forma parecida com o seu círculo social mais próximo.
de nós concorda que, no passado, as pessoas eram mais autênticas e diferentes entre si.
51%
2
63%
3
acham que estamos ficando cada vez mais parecidos entre si.
48%
4
P: O quanto considera que pensa e age de forma parecida com o seu ciclo social mais próximo?
2
P: No passado, as pessoas eram mais/menos autênticas e diferentes entre si?
3
P: Você acha que estamos cada vez mais ficando mais/menos parecidos entre si?
4
A identidade existe para que a gente possa nos compreender e nos reconhecer. Ainda reconhecemos quem somos ou do que realmente gostamos? Quais são os limites da fronteira entre humanos e robôs? Somos a extensão um do outro?Comemoramos as conquistas que os robôs ganham.
menos de nós
infelizmente demos ao termo “socialização” o pior dos sinônimos: a autoanulação.
capítulo 1
Cada vez que deixamos de viver experiências únicas, de sentir por nós mesmos, de criar memórias individuais, perdemos um pouco mais de nós.
Pouco a pouco, vamos nos tornando menos de nós mesmos.
I. menos cultura
II. menos espontaneidade
III. menos expressão
IV. menos sensibilidade
V. menos crítica
VI. menos responsabilidade
VII. menos lucidez
VIII. menos elos
Quando deixamos o controle do que consumimos na mão dos outros, nosso repertório cultural se restringe. As referências se tornam genéricas, insípidas, superficiais.
menos cultura
I.

Estamos entregues ao que vier, deixamos que pensem por nós, que escolham por nós. Aceitamos resignados essas imposições. Ficamos reféns da mesmice e enfraquecemos a nossa personalidade, nossos critérios e o nosso conhecimento cultural. Além disso, o igual reforça hierarquias raciais, de gênero, de classe, sob o disfarce da neutralidade.
“ ”
Uma vez, o etnólogo inglês Nigel Barley levantou a suspeita de que a ‘verdadeira chave do futuro’ reside em que ‘conceitos fundamentais como cultura deixariam de existir’. Seríamos, segundo Barley, ‘todos nós mais ou menos como turistas de camisa havaiana’. Será ‘turista’ o nome para ser humano após o fim da cultura?
Hiperculturalidade,Byung-Chul Hang, 2019
“ ”
É fundamental pensar de forma crítica para não se deixar levar pelo senso comum, divulgado pela mídia, se não você se torna uma pessoa sem espírito crítico.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
[sobre indústria cultural] Não se trata de fornecer o que o público deseja, mas de condicioná-lo a aceitar o que é ofertado, criando um ciclo vicioso de consumo e conformidade.
Leandro Rocha, professor e doutor em Filosofia, 2024



Ouvimos, lemos e consumimos uma espiral de repetições disfarçadas de novidade. Acreditamos estar criando coisas novas e diferentes enquanto, na verdade, nunca fomos tão previsíveis.
menos espontaneidade
II.
Caímos em um ciclo contínuo, em que criamos tecnologias que nos copiam para depois nós as copiarmos, até que já não saibamos mais quem está criando o que ou se algo está sendo criado. Quando consultamos as IAs, o que elas fazem é basicamente trazer uma solução perfeita. A mesma que foi entregue no dia anterior, a mesma que, naquele exato momento, está sendo entregue a outras milhares de pessoas. Estamos numa caverna tecnológica, funda e nada surpreendente. Se todos pensamos, criamos e agimos dentro dos mesmos parâmetros, perdemos a capacidade de imaginar diferente, projetamos e reproduzimos uma rotina previsível.
“ ”
O que significa então ser original? Se os algoritmos trabalham a partir de repositórios de textos já existentes, enquanto os humanos sempre reivindicaram para si a capacidade de criar o novo, o que significa inventar em um cenário de recombinação infinita?
Rodrigo Tavares para Folha, 2025
“ ”
A IA nada cria, nem sozinha nem em ‘colaboração’ com humanos; o que ela faz é certificar estatisticamente o texto para que sirva aos critérios de valor de um mundo regido pela eficiência quantitativa, pela velocidade e pela produtividade.
Daniel Galera, dentesguardados #35 Validação, 2025
“ ”
As histórias geradas por IA são mais semelhantes entre si do que as histórias escritas apenas por humanos. Esses resultados apontam para um aumento na criatividade individual, com o risco de perda da originalidade coletiva.
Doshi et al., Science Advances, 2024

O que os brasileiros preferem?
33. O que você prefere?
1
criar sozinho
23%
1
criar com inteligências artificiais
36%
1
criar com outras pessoas
42%
1




Em que momento começamos a nos expressar e a falar igual o ChatGPT, com frases curtas, pragmáticas, vazias e sem alma? Perdemos nosso sotaque e nosso jeito único de se expressar e eliminamos lentamente em nossa fala qualquer traço de emoção e verdade.
menos expressão
III.
Nos tornamos, com o perdão da velha e oportuna expressão, uma vitrola quebrada. Nos tornamos o outro. O imprevisível perde espaço. O erro desaparece. A vulnerabilidade e o humor se esvaziam. Somos a perfeição morna, pior, cômoda e necessária. Quem diria, as IAs acabaram endossando algo que já viralizava no século passado: o clichê.
“ ”
Querem desmascarar robôs? Prestem atenção no tom genérico, nos lugares comuníssimos, nas metáforas mortas, no jogo de cintura de beque alemão, na ausência de humor, nas alucinações — e deixem o travessão em paz.
Sérgio Rodrigues para Folha, 2025
dos brasileiros responderam "sim, muito” quando questionados se já ouviram ou receberam mensagens que pareciam ter sido geradas por IA's.
49%
2
P: Na sua vida pessoal: já recebeu mensagens e/ou escutou frases que pareciam ter sido geradas por IA's?
2
“ ”
O ChatGPT tem um estilo peculiar. Ele escreve de forma competente, mas monótona. Há pouca variação na escrita e certas construções são repetidas com frequência.
Philip Seargeant, professor de Linguística Aplicada na Open University, 2025


tradução: As pessoas respondem a conteúdos que sejam ‘AUTÊNTICO’, ‘VERDADEIRO’ e ‘HUMANO’. Então vamos incluir essas palavras nos nossos prompts de IA.

Se não temos um minuto para pensar em uma resposta do WhatsApp, para formular um e-mail, para escolher um presente, ainda temos tempo para pensar?
menos sensibilidade
IV.
Quanto mais delegamos para os outros descobrirem e fazerem por nós, mais nos acostumamos a isso. Ficamos ocupados apenas em nascer e morrer. Economizamos minutos ou horas do nosso dia pedindo isso, pedindo aquilo, mas nunca estivemos tão sem tempo. A conta não fecha. Perdemos a capacidade de pensar sozinhos. Agimos no automático e, no final do dia, nem sabemos o que fizemos.
“ ”
As pessoas não querem pensar, o corpo faz de tudo para não ter que pensar (...) Temos uma tendência de buscar conforto, é o princípio do prazer.
Psicanalista entrevistado, 2025
de nós assume que costuma pedir ajuda ou consultar IA's para conversar e/ou escrever para outras pessoas no âmbito pessoal.
63%
3
P: Você costuma pedir ajuda ou consultar IA's (como ChatGPT) para conversar e/ou escrever para outras pessoas no âmbito pessoal?
3
“ ”
O meu grande receio, como a mente humana, o cérebro humano é um grande camaleão e ele se adapta a toda sorte de contextos e circunstâncias que o mundo lhe oferece para sobreviver, se o nosso mundo se transformar todo aqui fora e viver sob a lógica digital, o cérebro humano vai se adaptar a ele. Então, nós vamos reduzir a nossa capacidade cognitiva, intelectual e inteligência ao nível dos sistemas digitais. É por isso que eu posso dizer que nós estamos caminhando rapidamente para criar milhões de zumbis digitais.
Miguel Nicolelis para ONU News, 2025



Desinformação ou ingenuidade conveniente? Acreditamos cegamente ou só estamos com preguiça de duvidar? É mais fácil aceitar sem questionar, mas pagamos um preço alto por isso, coletiva e pessoalmente.
menoscrítica
V.
"Print de conversa no whatsapp”
Que legal, eu não sabia disso. Como você descobriu?
Ah, eu vi num post
Seria o comodismo o preço da ingenuidade?Não apenas nos alimentamos de desinformações, como passamos a contribuir na construção de uma sociedade desinformada. O caminho que nos leva até os fatos se torna longo, e somos vencidos pela preguiça. Além disso, ficamos suscetíveis à manipulação e parecemos não nos importar com isso. Convenientemente coniventes.
“ ”
A desvantagem de construir agentes que tornam os humanos inúteis é que os humanos se tornam de fato inúteis e a IA slop - o conteúdo de baixa qualidade gerado pela IA - torna-se onipresente.
Andrej Karpathy, cofundador da OpenAI, 2025
“ ”
Ele vai moldando realmente o pensamento, tanto que a gente tem começado a ter isso na clínica. Existem casos graves de psicotização por causa do ChatGPT. Então, paciente que já não era muito lúcido, aí, mistura às vezes com droga, passa a madrugada falando com o ChatGPT, o cara sai no outro dia achando que ele é Cristo reencarnado.
Psicanalista entrevistado, 2025



O ciclo de delegar pensamentos e ações naturalmente nos vicia na isenção de nossas responsabilidades.
menosresponsabilidade
VI.
Se nos escondemos atrás do algoritmo, ficamos ilesos. Se nos acomodamos na desinformação, por que assumiríamos essa responsabilidade? E se todos se tornam irresponsáveis pelas próprias ações e atitudes, quem se responsabiliza? A noção de responsabilidade precisa ser resgatada a fim de mantermos uma sociedade moralmente ética. Mas para isso seria necessário bom senso, coisa que a IA talvez não ensine.
“ ”
Já existem muitas pesquisas que mostram que as pessoas estão mais dispostas a agir de forma antiética quando conseguem se distanciar de suas ações, e delegar é uma maneira clássica de fazer isso.
Zoe Rahwan, pesquisadora do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, 2025
“ ”
Mas nos deparamos com uma segunda descoberta fundamental que nos surpreendeu: a enorme disposição dos agentes de IA em obedecer a ordens flagrantemente antiéticas.
Zoe Rahwan, pesquisadora do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, 2025


Nunca estivemos tão empoderados intelectualmente pela ilusão da produtividade e pelo excesso de validação que a inteligência artificial nos oferece. Nos descolamos da realidade.
menoslucidez
VII.

Tudo confirma o que já pensamos, porque é exatamente isso que esperamos, é exatamente isso o que programamos, é exatamente isso o que queremos. A cada resposta, nossa autoconfiança cresce e a sensação de sabermos tudo aumenta. Então, nosso critério desaparece. Criamos nosso reinado e nos nomeamos reis e rainhas. E quanto mais somos aplaudidos pelas máquinas (que foram educadas para nos agradar), mais acreditamos em nossa própria genialidade e nos fechamos para os outros, para o mundo e para evoluirmos como seres humanos.
“ ”
Todo mundo gosta de ficar debatendo pensamento e isso gera uma ilusão de inteligência. O tiozão do ZAP. Para mim, o que considero pior é que o ChatGPT é intencionalmente programado para agradar a gente.
Psicanalista entrevistado, 2025

A necessidade do outro se esvazia quando acreditamos, equivocadamente, que já temos tudo o que precisamos de forma mais prática e fácil sem ter que pedir conselhos, dicas, instruções, informações e até mesmo afeto.
menoselos
VIII.

A consequência de nosso relacionamento mais intenso com IAs do que com pessoas é iminente: nos afastamos da vida real. E isso gera solidão. Desenvolvemos uma sentimento de abandono que pode ser irreversível. Nos isolamos em uma ilha impessoal, rica em tecnologia, mas fria em sentimentos e em experiências humanas.
“ ”
Vemos a tecnologia ‘sequestrando’ pessoas da sociedade. Meu maior medo da IA é que os jovens mais talentosos acreditem que podem ter uma vida só interagindo com uma tela e algoritmos. É preciso encarar o mundo complicado, frustrante e difícil que é a vida.
Scott Galloway, Hotmart Fire 2025
“ ”
Os vínculos interpessoais, outrora fundamentados na solidariedade e na cooperação, são progressivamente corroídos por uma lógica de curto prazo e descartabilidade, onde o sucesso [no trabalho] é medido exclusivamente pela eficiência e adaptabilidade individual. (...) Corremos o risco de um futuro marcado pela solidão, pela alienação e pela perda total da humanidade.
Thyago Simões, Fantasma da Inteligência Artificial e os desdobramentos do neoliberalismo, 2024
de nós prefere conversar com IA's do que com pessoas para tomar decisões.
49%
4
25. Conversar com as IA's para tomar decisões é: Melhor/pior do que conversar com outra pessoa.
4

o vaivém das mesmas cores, dos mesmos sabores, a dança solitária de uma valsa de uma nota só
Quando nos deixamos levar pelas facilidades das novas tecnologias que compõem o atual cenário em que vivemos, trapaceamos a parte mais valiosa que existe: nós mesmos. Quando terceirizamos aos outros nossas mensagens, conteúdos, expressões e nossa própria vida, tentamos, sem perceber, driblar nossa subjetividade humana, nossas emoções e nossos sentimentos. Deixamos de nos ouvir, de nos entender, de sentir. Perdemos a noção de quem somos.
“ ”
A inteligência artificial, especialmente a generativa, abriu novos horizontes a muitos níveis diferentes, entre os quais a melhoria da investigação no domínio da saúde e os progressos científicos, mas também apresenta questões preocupantes sobre as suas possíveis repercussões na abertura da humanidade à verdade e à beleza, sobre a nossa particular capacidade de compreender e elaborar a realidade.
Papa Leão, 2ª Conferência sobre IA no Vaticano, 2025
Muitas vezes inconsciente, outras não, fincamos bandeira neste mundo perfeito como fuga e acabamos perdendo o gosto de conversar e de superar desafios ou problemas, principalmente porque não sabemos como fazê-lo ou porque realmente não queremos.
“ ”
Quando a gente tá imerso no padrão, a gente tem dificuldade de enxergar. O padrão gera pontos cegos e pontos surdos. Quem tá muito dentro do padrão tem dificuldade em ver a realidade.
Psicanalista entrevistado, 2025
Quando os algoritmos e as IAs nos conhecem melhor que nós mesmos, somos nós que nos tornamos robôs. E não os robôs que se tornaram humanos. Acabamos nos entregando comodamente às rédeas tecnológicas. É uma prisão desejada, sem prazo pra terminar e sem direito à fiança.
Se o futuro aponta para uma delegação ainda maior - com a entrada dos agentes de IA em nossas vidas - se seguirmos como estamos, nos afastaremos ainda mais de nós mesmos e de quem somos. Nosso legado deixa de existir. Seremos vampiros cibernéticos, sem sombra e sem imagem refletida no espelho.
IA agêntica
IA generativa
redes sociais
internet
Linha do tempo de nossas identidades
“ ”
Agentes de IA geram uma falsa sensação de conforto e facilidade. Questioná-los parece absurdo, mas sua ‘conveniência’ esconde alienação. (...) Estamos em um jogo de imitação que, no fim, nos manipula
Kate Crawford, pesquisadora na Microsoft Research, 2025
Quando todos são iguais, a identidade perde a forma e, com ela, o pensamento.
Se somos mais do mesmo, deixamos de evoluir enquanto sociedade. Perdemos relevância enquanto indivíduos. Perdemos a capacidade de reconhecer quem somos.
É preciso mais do que vontade para quebrar o looping, é preciso coragem, é preciso ação, antes que seja tarde.
mais de nós
voltar a se reconher é a batalha mais árdua que existe, aceitar a derrota é o primeiro passo para vencer a si mesmo
capítulo 2
Como libertar a própria identidade do cativeiro?Desafiar o padrão e sair dessa entrega não é natural, é um esforço consciente. Desconfortável. Lembrar que o desconforto é o spoiler de uma conquista grandiosa será um grande aliado. Quanto mais seguimos padrões, mas criamos padrões. Invertamos, criemos ou recuperemos os padrões benéficos a este sucesso. Ter a consciência de quão saboroso é recuperar uma autoconfiança genuína é a vitória silenciosa: a mais saborosa das conquistas.
O que significa ser mais de nós?Ser você mesmo não significa se opor aos outros (tão pouco virar um dissidente digital), mas sim conseguir agir e pensar sem depender dos outros (humanos ou robôs). O coletivo precisa de indivíduos críticos para não se tornar um rebanho cego. E o indivíduo precisa do coletivo para não perder o sentido no seu isolamento.
A notícia boa é que 72%¹ dos brasileiros gostariam de ser mais diferentes dos outros.
P: Você gostaria de ser mais diferente dos outros ou autêntico(a)?
1
Conversamos com especialistas e autores do mercado para desenhar como conseguimos sair dessa escuridão e nos reconhecermos de volta.
I. sopa de letrinhas para um cérebro faminto
II. desinflar o ego para inflar o conhecimento
III. a IA navega rápido, mas nós que estamos no comando
IV. o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
V. razão e ação, nossa rima preferida
sopa de letrinhas para um cérebro faminto
I.
Pensar é inevitável“Penso, logo existo.”
Pensar é inevitável: ao nos depararmos com dados, matérias, informações, relatos ou reportagens, pensamos de imediato, é impossível lutar contra isso.
“ ”
O ponto de partida é o seu pensamento, a maneira como ele, com a sua educação, com seus estudos, com a sua formação, vê o mundo. É um pouco a sua ideologia ou a sua cosmologia.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
E toda vez que pensamos em alguma coisa, pensamos a partir do nosso repertório.
“ ”
Repertório é tudo o que a gente consegue registrar do que a gente viveu.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
“ ”
O repertório é o conjunto das informações que você tem, que pode ser mais rico ou menos rico, dependendo da maneira como você se relaciona com o conhecimento, com os fatos, com a ciência, com as leituras, com os autores. O repertório é um conjunto de informações.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
Quanto mais rico for o nosso repertório, mais ferramentas temos para julgar informações e formar interpretações pessoais e únicas.
apenas 36%² de nós acha que os brasileiros tem repertório amplo.
38. Como você avalia a amplitude do repertório dos brasileiros, no geral?
2
“ ”
Quanto mais rico o repertório, mais condições que a gente tem de fazer, digamos, um pensamento crítico. Se tiver um repertório muito limitado, a gente termina dizendo as mesmas coisas o tempo todo.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
É diferente quando o repertório começa a incluir memórias, experiências pessoais. Essas coisas não são tão fáceis de fazer com uma base de dados. Minha paciente vai colocar uma base de dados de todos os namorados? A tendência hoje é que todas as coisas sejam decididas com base em dados. Só que muito do valor agregado, que impacta mesmo é o quanto o seu repertório inclui materiais não computadorizáveis.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Quanto maior e mais estruturado o repertório, melhor a performance cognitiva, a adaptação e o julgamento em contextos novos.
Cattell, 1963; Horn, 1985; Baltes & Lindenberger, 1997
para ampliar
o seu repertório
*
consumir com intenção e presença
consumir conteúdos e perspectivas diversas
*
questionar, duvidar
*
autoatualização constante
*
ampliar e diversificar o repertório não é decorar coisas novas, mas pensar e refletir sobre o conhecimento adquirido e conectar com o que já sabe
*
variar entre fontes de informação mais extensas (livros, filmes, séries, podcasts longos, estudos científicos) e imediatas (redes sociais, vídeos curtos)
*
para ampliar o repertóriodentro da sua empresa
*
criar newsletters internas, clubes ou mostras com conteúdos que conectem temas aparentemente distantes (arte e tecnologia, filosofia e negócios etc.)
incentivar projetos paralelos dentro da empresa, nos quais se possa testar ideias fora do escopo de trabalho
*
reservar momentos na agenda em que o colaborador possa assistir a uma palestra, ler ou explorar novas ideias sem culpa produtiva
*
ter benefícios culturais: convênios com museus, cinemas, escolas de arte, universidades, festivais ou plataformas de cursos
*
desinflar o ego para inflar o conhecimento
II.
O encontro com o outroO pensamento isolado é fragmentado e enviesado. Para se transformar em pensamento crítico, ele precisa se abrir ao confronto. A crítica exige abertura para outras ideologias e sistemas de conhecimento.
“ ”
Se eu ficar só com o meu pensamento, eu não tenho pensamento crítico. (…) Para que ele seja crítico, eu tenho que contrastá-lo com outros pensamentos que sejam, digamos, de uma outra perspectiva ideológica ou filosófica.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Sem o outro, eu imponho o meu pensamento, o meu sistema.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
Esse “parar para pensar” de forma dialógica é justamente o que permite escapar dos vieses de confirmação.
“ ”
Computador não para e pensa, ele faz no automático, o chatGPT, por exemplo, não consegue entender tempo. Parar para pensar é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico, e só o ser humano sabe perceber tempo.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Se você soma uma cor com outra cor sempre sairá uma nova cor. Nenhuma cor fica ilesa ao encontro com outro.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
76%
3
sentem que está cada vez mais difícil conversar e se relacionar com os outros
P: Com qual das frases abaixo você mais concorda? Está cada vez mais fácil/difícil conversar e se relacionar com os outros.
3
P: Sinto que existe espaço para pensar diferente na sociedade atual em que vivemos
4
1/4
4
dos brasileiros sentem que não existe espaço para pensar diferente na sociedade atual em que vivemos
para dialogar
*
pensar e debater ideias coletivamente
escuta ativa e sem preconceitos
*
ouvir o diferente
*
converse com pessoas fora do círculo mais afetivo. a crítica externa obriga o pensamento a se abrir e sair do próprio viés
*
“ ”
Ouvir o outro e levar a sério o que eles dizem.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Escutar e não julgar se esta certo ou errado.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Dar, receber, retribuir.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
para dialogar dentro da sua empresa
*
formar grupos de trabalho e comitês com pessoas de diferentes departamentos e cargos para ampliar perspectivas
promover encontros, conversas, clubes de leitura para estimular o embate de ideias e pontos de vista
*
parcerias com empresas de setores diferentes ou ONGs para co-criar soluções de negócio
*
ter facilitadores ou programas de mediação que ajudem grupos a lidar com conflitos de ideias de modo construtivo
*
criar programas de mentorias interdisciplinares para colocar profissionais de áreas diferentes dentro da própria empresa para trocas informais
*
P. Como você avalia as conversas que tem com as pessoas do seu trabalho?
5
31%
5
das pessoas acham que conversas no trabalho estão cada vez mais irrelevantes
para inspirar



a IA navega rápido mas nós que estamos no comando
III.
Tempo para aprofundarQuando a lógica do mercado espera performance, velocidade e produtividade, sobra pouco espaço para o discernimento. A interpretação crítica é obrigada a ceder espaço para a superficialidade. Mas profundidade exige outra lógica. Profundidade exige tempo. Pensamento crítico exige tempo.
“ ”
Pensamento critico é um processo. Quando o tempo é muito curto, ele nao chega na essência das coisas.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Pensamento devagar, parar e pensar. Computador não para e pensa, ele faz no automático, chatGPT não consegue entender tempo. Parar para pensar é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico, e só o ser humano sabe perceber tempo.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
O ‘parar para pensar’ é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
A IA é tão boa que quer deixar de ser ferramenta. E isso é perigoso. Essa demanda por uma produtividade sem freio pode atropelar o tempo necessário da criação.
Sérgio Rodrigues, 2025
para respeitar o tempo
*
reservar espaços na rotina sem reuniões, notificações ou estímulos externos que dispersam
criar rituais de pausa na rotina
*
antes de responder ou decidir algo importante, perguntar-se se o tempo para a crítica foi o suficiente
*
delimitar o consumo de informação: menos volume, mais profundidade
*
para respeitar o tempo dentro da sua empresa
incentivar que decisões estratégicas passem por etapas de análise, contraponto e revisão antes da conclusão
*
treinar colaboradores para leitura crítica de dados e informações, incentivando que as equipes questionem a primeira ideia ou a primeira sugestão da IA
*
*
criar margens de respiro nos cronogramas de projetos, permitindo que as ideias amadureçam antes da execução
*
legitimar o não saber imediato e o tempo de pesquisa
incluir nos critérios de avaliação a capacidade de articular raciocínios próprios e de sustentar posições com argumentos consistentes
*
para inspirar


o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
IV.
A arte de escreverO pensamento crítico só se consolida quando é transformado em conhecimento sistemático.
“ ”
Quando o pensamento se transforma num conjunto ordenado de significados, isso é conhecimento. (…) Quando eu coloco em ordem os pensamentos, eles produzem o conhecimento sistemático.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
A escrita e a fala, nesse processo, são ferramentas centrais.
“ ”
Escrever é uma forma de organizar. (…) A fala organiza de certa maneira, mas é efêmera, desaparece. A escrita não, ela permanece.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Dialetiza, precisa ter um dentro e fora, precisa despersonalizar, não sou só eu, tem o outro. Coloca em ação, no mundo, te tira dos vieses de confirmação, botar para fora é dialetizar com o mundo.
Psicanalista entrevistado, 2025
É na ordenação, seja pela escrita, seja pelo exercício discursivo, que o pensamento ganha permanência e consistência.
para organizar
separar um espaço fixo (físico ou digital) para anotar ideias, dúvidas, descobertas, pensamentos etc
*
*
começar a escrever, mesmo sem clareza ainda: a clareza surge justamente no ato de escrever
criar um blog, você se obriga a alimentá-lo e a internet atrairá leitores Reler e reescrever
*
explicar ideias e pensamentos em voz alta, sozinho ou para alguém
*
*
quanto mais sistematizada a documentação (por exemplo em categorias por temas, ideias, autores, etc.), mais fácil fica de fazer relações e tomar decisões
para organizar dentro da sua empresa
incentivar o uso a escrita para pensar, promovendo diários de bordo e cadernos de processo como ferramenta de desenvolvimento
*
*
criar espaços de compartilhamento de aprendizados e reflexões após projetos, com sistematização escrita
*
promover oficinas de escrita crítica com foco em estruturação raciocínio, argumentação e clareza
criar espaços de publicação interna: boletins, blogs, zines ou plataformas onde colaboradores possam compartilhar textos autorais e experimentações
*
para inspirar


razão e ação, nossa rima preferida
V.
Agir conscientementePara o pensamento crítico deixar o campo das ideias e passa a ocupar o campo da prática, é preciso agir. Aplicar o conhecimento e o pensamento crítico não significa executar mecanicamente, mas agir com consciência de contexto, de valores e de consequências. O conhecimento ganha forma no mundo: nas decisões, nas estratégias, nas criações.
“ ”
A interpretação é uma atitude em que a pessoa aciona os seus pensamentos, os seus conhecimentos, para poder entender o outro. Então é o ponto de chegada.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
para agir conscientemente
treinar a ação consciente nas pequenas coisas: na forma como conduz uma conversa, define uma prioridade, escolhe uma palavra
*
a consciência nasce do olhar contextual
*
*
pensar antes de agir, mas agir pensando
*
equilibrar ritmo e intenção. Substituir o “tirar da frente” por “fazer sentido”
observar o espaço, as pessoas, os impactos possíveis
*
para agir conscientemente dentro da sua empresa
*
reunir times para fazer o exercício de interpretar dados, comportamentos e tendências para cada contexto e área
decidir com contextos humano, cultural e simbólico
*
*
revisar constantemente o automatismo organizacional da empresa
*
questionar processos, rotinas e propor mudanças
*
avaliar consequências, não só resultados
estabelecer rituais antes de executar uma ação para torna-la ainda mais consciente
*
*
treinar pensamento crítico como competência central dos colaboradores
para inspirar


de volta a si mesmo
As tecnologias processam com velocidade, ajudam a organizar e ampliam o alcance. Talvez, o papel mais valioso dela seja mesmo este: nos devolver tempo.
epílogo
As tecnologias processam com velocidade, ajudam a organizar e ampliam o alcance. Talvez, o papel mais valioso dela seja mesmo este: nos devolver tempo.
“ ”
A nossa competição com a IA é sobre performance. Isso só vai ser bom se nos devolver a nossa humanidade.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
Em um mundo cada vez mais rápido e inteligente artificialmente, a identidade está justamente no que é mais humano: parar, pensar, conversar, escrever, dar tempo ao tempo.
A profundidade humana retorna como contraponto à aceleração imposta pela tecnologia. E é assim que voltamos a nos encontrar e nos reconhecer como indivíduos únicos.
As identidades sem distinção são desafios social e educacional. Além de serem responsabilidade individual, também são responsabilidade do governo e das empresas.
Se você é uma marca e quer entender como fomentar pensamento crítico e identidade, chame a Página 3 para conversar.
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quem é você numa realidade maçante de identidades idênticas?
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Um estudo da página3 para voltarmos a pensar por conta própria e nos reconhecer em uma multidão de todo mundo.
Abordamos o conceito de identidade e como ela está se diluindo em uma sociedade de pessoas cada vez mais parecidas entre si.
Prólogo
Mais dos outros
No primeiro capítulo, damos luz àquilo que perdemos quando nos unificamos aos outros:
Primeiro capítulo
Menos de nós
I. menos cultura
II. menos espontaneidade
III. menos expressão
IV. menos sensibilidade
V. menos crítica
VI. menos responsabilidade
VII. menos lucidez
VIII. menos elos
No segundo capítulo, trazemos cinco recomendações para voltarmos a nos reconhecer e valorizar nossa própria identidade:
Segundo capítulo
Mais de nós
I. sopa de letrinhas para um cérebro faminto
II. desinflar o ego para inflar o conhecimento
III. a IA navega rápido, mas nós que estamos no comando
IV. o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
V. razão e ação, nossa rima preferida
Concluímos o estudo destacando a identidade humana como o principal contraponto ao mais do mesmo.
Epílogo
De volta a si mesmo

como fizemos este estudo
600 entrevistas, margem de erro = 4 p.p
Mapeamos a percepção dos brasileiros sobre o assunto e como eles se sentem em relação as suas identidades
2.
04 entrevistas em profundidade + review de artigos, vídeos e publicações online
Conversamos e ouvimos especialistas no assunto: psicanalistas, antropólogos, pesquisadores, professores, neurocientistas e filósofos.
1.
mais dos outros
conseguimos criar um egoísmo ao contrário, em que só temos olhos ao umbigo alheio
prólogo
É a partir dessa identidade que nos envolvemos coletivamente com um grupo, sentindo-se parte dele. Sentindo-se pertencente. A questão é que pertencer não significa parecer, ser igual.
E, quando olhamos ao nosso redor, o que vemos é mais do mesmo. Quando as experiências que vivemos e as memórias que criamos se tornam muito parecidas, nos tornamos todos iguais. Nos tornamos mais dos outros, menos de nós mesmos.
De acordo com o filósofo Clóvis de Barros, "a identidade é uma manifestação que permite ao seu enunciador (nós) circunscrever-se e estabelecer uma diferença específica com pretensões de permanência em relação ao que lhe é externo (os outros)."
Para esclarecer essa ideia, ele explica:
“todos nós, para existirmos em sociedade, precisamos dizer quem somos.”
“ ”
O que faz de nós, nós mesmos?Somos nós quem definimos quem somos. Está em nossas mãos. A nossa identidade é a construção de uma autoimagem, que fazemos em referência aos outros¹. São as experiências que vivemos e as memórias que criamos que definem quem somos, em cada momento das nossas vidas.
¹Definição Michael Pollak (1992)
dos brasileiros consideram que pensam e agem de forma parecida com o seu círculo social mais próximo.
de nós concorda que, no passado, as pessoas eram mais autênticas e diferentes entre si.
51%
2
63%
3
acham que estamos ficando cada vez mais parecidos entre si.
48%
4
P: O quanto considera que pensa e age de forma parecida com o seu ciclo social mais próximo?
2
P: No passado, as pessoas eram mais/menos autênticas e diferentes entre si?
3
P: Você acha que estamos cada vez mais ficando mais/menos parecidos entre si?
4
A identidade existe para que a gente possa nos compreender e nos reconhecer. Ainda reconhecemos quem somos ou do que realmente gostamos? Quais são os limites da fronteira entre humanos e robôs? Somos a extensão um do outro?Comemoramos as conquistas que os robôs ganham.
menos de nós
infelizmente demos ao termo “socialização” o pior dos sinônimos: a autoanulação.
capítulo 1
Cada vez que deixamos de viver experiências únicas, de sentir por nós mesmos, de criar memórias individuais, perdemos um pouco mais de nós.
Pouco a pouco, vamos nos tornando menos de nós mesmos.
I. menos cultura
II. menos espontaneidade
III. menos expressão
IV. menos sensibilidade
V. menos crítica
VI. menos responsabilidade
VII. menos lucidez
VIII. menos elos
Quando deixamos o controle do que consumimos na mão dos outros, nosso repertório cultural se restringe. As referências se tornam genéricas, insípidas, superficiais.
menos cultura
I.

Estamos entregues ao que vier, deixamos que pensem por nós, que escolham por nós. Aceitamos resignados essas imposições. Ficamos reféns da mesmice e enfraquecemos a nossa personalidade, nossos critérios e o nosso conhecimento cultural. Além disso, o igual reforça hierarquias raciais, de gênero, de classe, sob o disfarce da neutralidade.
“ ”
Uma vez, o etnólogo inglês Nigel Barley levantou a suspeita de que a ‘verdadeira chave do futuro’ reside em que ‘conceitos fundamentais como cultura deixariam de existir’. Seríamos, segundo Barley, ‘todos nós mais ou menos como turistas de camisa havaiana’. Será ‘turista’ o nome para ser humano após o fim da cultura?
Hiperculturalidade,Byung-Chul Hang, 2019
“ ”
É fundamental pensar de forma crítica para não se deixar levar pelo senso comum, divulgado pela mídia, se não você se torna uma pessoa sem espírito crítico.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
[sobre indústria cultural] Não se trata de fornecer o que o público deseja, mas de condicioná-lo a aceitar o que é ofertado, criando um ciclo vicioso de consumo e conformidade.
Leandro Rocha, professor e doutor em Filosofia, 2024



Ouvimos, lemos e consumimos uma espiral de repetições disfarçadas de novidade. Acreditamos estar criando coisas novas e diferentes enquanto, na verdade, nunca fomos tão previsíveis.
menos espontaneidade
II.
Caímos em um ciclo contínuo, em que criamos tecnologias que nos copiam para depois nós as copiarmos, até que já não saibamos mais quem está criando o que ou se algo está sendo criado. Quando consultamos as IAs, o que elas fazem é basicamente trazer uma solução perfeita. A mesma que foi entregue no dia anterior, a mesma que, naquele exato momento, está sendo entregue a outras milhares de pessoas. Estamos numa caverna tecnológica, funda e nada surpreendente. Se todos pensamos, criamos e agimos dentro dos mesmos parâmetros, perdemos a capacidade de imaginar diferente, projetamos e reproduzimos uma rotina previsível.
“ ”
O que significa então ser original? Se os algoritmos trabalham a partir de repositórios de textos já existentes, enquanto os humanos sempre reivindicaram para si a capacidade de criar o novo, o que significa inventar em um cenário de recombinação infinita?
Rodrigo Tavares para Folha, 2025
“ ”
A IA nada cria, nem sozinha nem em ‘colaboração’ com humanos; o que ela faz é certificar estatisticamente o texto para que sirva aos critérios de valor de um mundo regido pela eficiência quantitativa, pela velocidade e pela produtividade.
Daniel Galera, dentesguardados #35 Validação, 2025
“ ”
As histórias geradas por IA são mais semelhantes entre si do que as histórias escritas apenas por humanos. Esses resultados apontam para um aumento na criatividade individual, com o risco de perda da originalidade coletiva.
Doshi et al., Science Advances, 2024

O que os brasileiros preferem?
P. O que você prefere?
1
criar sozinho
23%
1
criar com inteligências artificiais
36%
1
criar com outras pessoas
42%
1




Em que momento começamos a nos expressar e a falar igual o ChatGPT, com frases curtas, pragmáticas, vazias e sem alma? Perdemos nosso sotaque e nosso jeito único de se expressar e eliminamos lentamente em nossa fala qualquer traço de emoção e verdade.
menos expressão
III.
Nos tornamos, com o perdão da velha e oportuna expressão, uma vitrola quebrada. Nos tornamos o outro. O imprevisível perde espaço. O erro desaparece. A vulnerabilidade e o humor se esvaziam. Somos a perfeição morna, pior, cômoda e necessária. Quem diria, as IAs acabaram endossando algo que já viralizava no século passado: o clichê.
“ ”
Querem desmascarar robôs? Prestem atenção no tom genérico, nos lugares comuníssimos, nas metáforas mortas, no jogo de cintura de beque alemão, na ausência de humor, nas alucinações — e deixem o travessão em paz.
Sérgio Rodrigues para Folha, 2025
dos brasileiros responderam "sim, muito”quando questionados se já ouviram ou receberam mensagens que pareciam ter sido geradas por IA's.
49%
2
P: Na sua vida pessoal: já recebeu mensagens e/ou escutou frases que pareciam ter sido geradas por IA's?
2
“ ”
O ChatGPT tem um estilo peculiar. Ele escreve de forma competente, mas monótona. Há pouca variação na escrita e certas construções são repetidas com frequência.
Philip Seargeant, professor de Linguística Aplicada na Open University, 2025


tradução: As pessoas respondem a conteúdos que sejam ‘AUTÊNTICO’, ‘VERDADEIRO’ e ‘HUMANO’. Então vamos incluir essas palavras nos nossos prompts de IA.

Se não temos um minuto para pensar em uma resposta do WhatsApp, para formular um e-mail, para escolher um presente, ainda temos tempo para pensar?
menos sensibilidade
IV.
Quanto mais delegamos para os outros descobrirem e fazerem por nós, mais nos acostumamos a isso. Ficamos ocupados apenas em nascer e morrer. Economizamos minutos ou horas do nosso dia pedindo isso, pedindo aquilo, mas nunca estivemos tão sem tempo. A conta não fecha. Perdemos a capacidade de pensar sozinhos. Agimos no automático e, no final do dia, nem sabemos o que fizemos.
“ ”
As pessoas não querem pensar, o corpo faz de tudo para não ter que pensar (...) Temos uma tendência de buscar conforto, é o princípio do prazer.
Psicanalista entrevistado, 2025
de nós assume que costuma pedir ajuda ou consultar IA's para conversar e/ou escrever para outras pessoas no âmbito pessoal.
63%
3
P: Você costuma pedir ajuda ou consultar IA's (como ChatGPT) para conversar e/ou escrever para outras pessoas no âmbito pessoal?
3
“ ”
O meu grande receio, como a mente humana, o cérebro humano é um grande camaleão e ele se adapta a toda sorte de contextos e circunstâncias que o mundo lhe oferece para sobreviver, se o nosso mundo se transformar todo aqui fora e viver sob a lógica digital, o cérebro humano vai se adaptar a ele. Então, nós vamos reduzir a nossa capacidade cognitiva, intelectual e inteligência ao nível dos sistemas digitais. É por isso que eu posso dizer que nós estamos caminhando rapidamente para criar milhões de zumbis digitais.
Miguel Nicolelis para ONU News, 2025



Desinformação ou ingenuidade conveniente? Acreditamos cegamente ou só estamos com preguiça de duvidar? É mais fácil aceitar sem questionar, mas pagamos um preço alto por isso, coletiva e pessoalmente.
menoscrítica
V.
"Print de conversa no whatsapp”
Que legal, eu não sabia disso. Como você descobriu?
Ah, eu vi num post
Seria o comodismo o preço da ingenuidade?Não apenas nos alimentamos de desinformações, como passamos a contribuir na construção de uma sociedade desinformada. O caminho que nos leva até os fatos se torna longo, e somos vencidos pela preguiça. Além disso, ficamos suscetíveis à manipulação e parecemos não nos importar com isso. Convenientemente coniventes.
“ ”
A desvantagem de construir agentes que tornam os humanos inúteis é que os humanos se tornam de fato inúteis e a IA slop - o conteúdo de baixa qualidade gerado pela IA - torna-se onipresente.
Andrej Karpathy, cofundador da OpenAI, 2025
“ ”
Ele vai moldando realmente o pensamento, tanto que a gente tem começado a ter isso na clínica. Existem casos graves de psicotização por causa do ChatGPT. Então, paciente que já não era muito lúcido, aí, mistura às vezes com droga, passa a madrugada falando com o ChatGPT, o cara sai no outro dia achando que ele é Cristo reencarnado.
Psicanalista entrevistado, 2025



O ciclo de delegar pensamentos e ações naturalmente nos vicia na isenção de nossas responsabilidades.
menosresponsabilidade
VI.
Se nos escondemos atrás do algoritmo, ficamos ilesos. Se nos acomodamos na desinformação, por que assumiríamos essa responsabilidade? E se todos se tornam irresponsáveis pelas próprias ações e atitudes, quem se responsabiliza? A noção de responsabilidade precisa ser resgatada a fim de mantermos uma sociedade moralmente ética. Mas para isso seria necessário bom senso, coisa que a IA talvez não ensine.
“ ”
Já existem muitas pesquisas que mostram que as pessoas estão mais dispostas a agir de forma antiética quando conseguem se distanciar de suas ações, e delegar é uma maneira clássica de fazer isso.
Zoe Rahwan, pesquisadora do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, 2025
“ ”
Mas nos deparamos com uma segunda descoberta fundamental que nos surpreendeu: a enorme disposição dos agentes de IA em obedecer a ordens flagrantemente antiéticas.
Zoe Rahwan, pesquisadora do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, 2025


Nunca estivemos tão empoderados intelectualmente pela ilusão da produtividade e pelo excesso de validação que a inteligência artificial nos oferece. Nos descolamos da realidade.
menoslucidez
VII.

Tudo confirma o que já pensamos, porque é exatamente isso que esperamos, é exatamente isso o que programamos, é exatamente isso o que queremos. A cada resposta, nossa autoconfiança cresce e a sensação de sabermos tudo aumenta. Então, nosso critério desaparece. Criamos nosso reinado e nos nomeamos reis e rainhas. E quanto mais somos aplaudidos pelas máquinas (que foram educadas para nos agradar), mais acreditamos em nossa própria genialidade e nos fechamos para os outros, para o mundo e para evoluirmos como seres humanos.
“ ”
Todo mundo gosta de ficar debatendo pensamento e isso gera uma ilusão de inteligência. O tiozão do ZAP. Para mim, o que considero pior é que o ChatGPT é intencionalmente programado para agradar a gente.
Psicanalista entrevistado, 2025

A necessidade do outro se esvazia quando acreditamos, equivocadamente, que já temos tudo o que precisamos de forma mais prática e fácil sem ter que pedir conselhos, dicas, instruções, informações e até mesmo afeto.
menoselos
VIII.

A consequência de nosso relacionamento mais intenso com IAs do que com pessoas é iminente: nos afastamos da vida real. E isso gera solidão. Desenvolvemos uma sentimento de abandono que pode ser irreversível. Nos isolamos em uma ilha impessoal, rica em tecnologia, mas fria em sentimentos e em experiências humanas.
“ ”
Vemos a tecnologia ‘sequestrando’ pessoas da sociedade. Meu maior medo da IA é que os jovens mais talentosos acreditem que podem ter uma vida só interagindo com uma tela e algoritmos. É preciso encarar o mundo complicado, frustrante e difícil que é a vida.
Scott Galloway, Hotmart Fire 2025
“ ”
Os vínculos interpessoais, outrora fundamentados na solidariedade e na cooperação, são progressivamente corroídos por uma lógica de curto prazo e descartabilidade, onde o sucesso [no trabalho] é medido exclusivamente pela eficiência e adaptabilidade individual. (...) Corremos o risco de um futuro marcado pela solidão, pela alienação e pela perda total da humanidade.
Thyago Simões, Fantasma da Inteligência Artificial e os desdobramentos do neoliberalismo, 2024
de nós prefere conversar com IA's do que com pessoas para tomar decisões.
49%
4
P. Conversar com as IA's para tomar decisões é: Melhor/pior do que conversar com outra pessoa.
4

o vaivém das mesmas cores, dos mesmos sabores, a dança solitária de uma valsa de uma nota só
Quando nos deixamos levar pelas facilidades das novas tecnologias que compõem o atual cenário em que vivemos, trapaceamos a parte mais valiosa que existe: nós mesmos. Quando terceirizamos aos outros nossas mensagens, conteúdos, expressões e nossa própria vida, tentamos, sem perceber, driblar nossa subjetividade humana, nossas emoções e nossos sentimentos. Deixamos de nos ouvir, de nos entender, de sentir. Perdemos a noção de quem somos.
“ ”
A inteligência artificial, especialmente a generativa, abriu novos horizontes a muitos níveis diferentes, entre os quais a melhoria da investigação no domínio da saúde e os progressos científicos, mas também apresenta questões preocupantes sobre as suas possíveis repercussões na abertura da humanidade à verdade e à beleza, sobre a nossa particular capacidade de compreender e elaborar a realidade.
Papa Leão, 2ª Conferência sobre IA no Vaticano, 2025
Muitas vezes inconsciente, outras não, fincamos bandeira neste mundo perfeito como fuga e acabamos perdendo o gosto de conversar e de superar desafios ou problemas, principalmente porque não sabemos como fazê-lo ou porque realmente não queremos.
“ ”
Quando a gente tá imerso no padrão, a gente tem dificuldade de enxergar. O padrão gera pontos cegos e pontos surdos. Quem tá muito dentro do padrão tem dificuldade em ver a realidade.
Psicanalista entrevistado, 2025
Quando os algoritmos e as IAs nos conhecem melhor que nós mesmos, somos nós que nos tornamos robôs. E não os robôs que se tornaram humanos. Acabamos nos entregando comodamente às rédeas tecnológicas. É uma prisão desejada, sem prazo pra terminar e sem direito à fiança.
Se o futuro aponta para uma delegação ainda maior - com a entrada dos agentes de IA em nossas vidas - se seguirmos como estamos, nos afastaremos ainda mais de nós mesmos e de quem somos. Nosso legado deixa de existir. Seremos vampiros cibernéticos, sem sombra e sem imagem refletida no espelho.
IA agêntica
IA generativa
redes sociais
internet
Linha do tempo de nossas identidades
“ ”
Agentes de IA geram uma falsa sensação de conforto e facilidade. Questioná-los parece absurdo, mas sua ‘conveniência’ esconde alienação. (...) Estamos em um jogo de imitação que, no fim, nos manipula
Kate Crawford, pesquisadora na Microsoft Research, 2025
Quando todos são iguais, a identidade perde a forma e, com ela, o pensamento.
Se somos mais do mesmo, deixamos de evoluir enquanto sociedade. Perdemos relevância enquanto indivíduos. Perdemos a capacidade de reconhecer quem somos.
É preciso mais do que vontade para quebrar o looping, é preciso coragem, é preciso ação, antes que seja tarde.
mais de nós
voltar a se reconher é a batalha mais árdua que existe, aceitar a derrota é o primeiro passo para vencer a si mesmo
capítulo 2
O que significa ser mais de nós?Ser você mesmo não significa se opor aos outros (tão pouco virar um dissidente digital), mas sim conseguir agir e pensar sem depender dos outros (humanos ou robôs). O coletivo precisa de indivíduos críticos para não se tornar um rebanho cego. E o indivíduo precisa do coletivo para não perder o sentido no seu isolamento.
A notícia boa é que 72%¹ dos brasileiros gostariam de ser mais diferentes dos outros.
P: Você gostaria de ser mais diferente dos outros ou autêntico(a)?
1
Conversamos com especialistas e autores do mercado para desenhar como conseguimos sair dessa escuridão e nos reconhecermos de volta.
I. sopa de letrinhas para um cérebro faminto
II. desinflar o ego para inflar o conhecimento
III. a IA navega rápido, mas nós que estamos no comando
IV. o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
V. razão e ação, nossa rima preferida
sopa de letrinhas para um cérebro faminto
I.
Pensar é inevitável“Penso, logo existo.”
Pensar é inevitável: ao nos depararmos com dados, matérias, informações, relatos ou reportagens, pensamos de imediato, é impossível lutar contra isso.
“ ”
O ponto de partida é o seu pensamento, a maneira como ele, com a sua educação, com seus estudos, com a sua formação, vê o mundo. É um pouco a sua ideologia ou a sua cosmologia.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
E toda vez que pensamos em alguma coisa, pensamos a partir do nosso repertório.
“ ”
Repertório é tudo o que a gente consegue registrar do que a gente viveu.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
“ ”
O repertório é o conjunto das informações que você tem, que pode ser mais rico ou menos rico, dependendo da maneira como você se relaciona com o conhecimento, com os fatos, com a ciência, com as leituras, com os autores. O repertório é um conjunto de informações.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
Quanto mais rico for o nosso repertório, mais ferramentas temos para julgar informações e formar interpretações pessoais e únicas.
apenas 36%² de nós acha que os brasileiros tem repertório amplo.
P. Como você avalia a amplitude do repertório dos brasileiros, no geral?
2
“ ”
Quanto mais rico o repertório, mais condições que a gente tem de fazer, digamos, um pensamento crítico. Se tiver um repertório muito limitado, a gente termina dizendo as mesmas coisas o tempo todo.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
É diferente quando o repertório começa a incluir memórias, experiências pessoais. Essas coisas não são tão fáceis de fazer com uma base de dados. Minha paciente vai colocar uma base de dados de todos os namorados? A tendência hoje é que todas as coisas sejam decididas com base em dados. Só que muito do valor agregado, que impacta mesmo é o quanto o seu repertório inclui materiais não computadorizáveis.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Quanto maior e mais estruturado o repertório, melhor a performance cognitiva, a adaptação e o julgamento em contextos novos.
Cattell, 1963; Horn, 1985; Baltes & Lindenberger, 1997
para ampliar
o seu repertório
*
consumir com intenção e presença
consumir conteúdos e perspectivas diversas
*
questionar, duvidar
*
autoatualização constante
*
ampliar e diversificar o repertório não é decorar coisas novas, mas pensar e refletir sobre o conhecimento adquirido e conectar com o que já sabe
*
variar entre fontes de informação mais extensas (livros, filmes, séries, podcasts longos, estudos científicos) e imediatas (redes sociais, vídeos curtos)
*
para ampliar o repertóriodentro da sua empresa
*
criar newsletters internas, clubes ou mostras com conteúdos que conectem temas aparentemente distantes (arte e tecnologia, filosofia e negócios etc.)
incentivar projetos paralelos dentro da empresa, nos quais se possa testar ideias fora do escopo de trabalho
*
reservar momentos na agenda em que o colaborador possa assistir a uma palestra, ler ou explorar novas ideias sem culpa produtiva
*
ter benefícios culturais: convênios com museus, cinemas, escolas de arte, universidades, festivais ou plataformas de cursos
*
desinflar o ego para inflar o conhecimento
II.
O encontro com o outroO pensamento isolado é fragmentado e enviesado. Para se transformar em pensamento crítico, ele precisa se abrir ao confronto. A crítica exige abertura para outras ideologias e sistemas de conhecimento.
“ ”
Se eu ficar só com o meu pensamento, eu não tenho pensamento crítico. (…) Para que ele seja crítico, eu tenho que contrastá-lo com outros pensamentos que sejam, digamos, de uma outra perspectiva ideológica ou filosófica.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Sem o outro, eu imponho o meu pensamento, o meu sistema.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
Esse “parar para pensar” de forma dialógica é justamente o que permite escapar dos vieses de confirmação.
“ ”
Computador não para e pensa, ele faz no automático, o chatGPT, por exemplo, não consegue entender tempo. Parar para pensar é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico, e só o ser humano sabe perceber tempo.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Se você soma uma cor com outra cor sempre sairá uma nova cor. Nenhuma cor fica ilesa ao encontro com outro.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
76%
3
sentem que está cada vez mais difícil conversar e se relacionar com os outros
P: Com qual das frases abaixo você mais concorda? Está cada vez mais fácil/difícil conversar e se relacionar com os outros.
3
P: Sinto que existe espaço para pensar diferente na sociedade atual em que vivemos
4
1/4
4
dos brasileiros sentem que não existe espaço para pensar diferente na sociedade atual em que vivemos
para dialogar
*
pensar e debater ideias coletivamente
escuta ativa e sem preconceitos
*
ouvir o diferente
*
converse com pessoas fora do círculo mais afetivo. a crítica externa obriga o pensamento a se abrir e sair do próprio viés
*
expor opiniões e pensamentos de forma respeitosa
*
“ ”
Ouvir o outro e levar a sério o que eles dizem.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Escutar e não julgar se esta certo ou errado.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Dar, receber, retribuir.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
para dialogar dentro da sua empresa
*
formar grupos de trabalho e comitês com pessoas de diferentes departamentos e cargos para ampliar perspectivas
promover encontros, conversas, clubes de leitura para estimular o embate de ideias e pontos de vista
*
parcerias com empresas de setores diferentes ou ONGs para co-criar soluções de negócio
*
ter facilitadores ou programas de mediação que ajudem grupos a lidar com conflitos de ideias de modo construtivo
*
criar programas de mentorias interdisciplinares para colocar profissionais de áreas diferentes dentro da própria empresa para trocas informais
*
P. Como você avalia as conversas que tem com as pessoas do seu trabalho?
5
31%
5
das pessoas acham que conversas no trabalho estão cada vez mais irrelevantes
para inspirar



a IA navega rápido mas nós que estamos no comando
III.
Tempo para aprofundarQuando a lógica do mercado espera performance, velocidade e produtividade, sobra pouco espaço para o discernimento. A interpretação crítica é obrigada a ceder espaço para a superficialidade. Mas profundidade exige outra lógica. Profundidade exige tempo. Pensamento crítico exige tempo.
“ ”
Pensamento critico é um processo. Quando o tempo é muito curto, ele nao chega na essência das coisas.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Pensamento devagar, parar e pensar. Computador não para e pensa, ele faz no automático, chatGPT não consegue entender tempo. Parar para pensar é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico, e só o ser humano sabe perceber tempo.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
O ‘parar para pensar’ é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
A IA é tão boa que quer deixar de ser ferramenta. E isso é perigoso. Essa demanda por uma produtividade sem freio pode atropelar o tempo necessário da criação.
Sérgio Rodrigues, 2025
para respeitar o tempo
*
reservar espaços na rotina sem reuniões, notificações ou estímulos externos que dispersam
criar rituais de pausa na rotina
*
antes de responder ou decidir algo importante, perguntar-se se o tempo para a crítica foi o suficiente
*
delimitar o consumo de informação: menos volume, mais profundidade
*
para respeitar o tempo dentro da sua empresa
incentivar que decisões estratégicas passem por etapas de análise, contraponto e revisão antes da conclusão
*
treinar colaboradores para leitura crítica de dados e informações, incentivando que as equipes questionem a primeira ideia ou a primeira sugestão da IA
*
*
criar margens de respiro nos cronogramas de projetos, permitindo que as ideias amadureçam antes da execução
*
legitimar o não saber imediato e o tempo de pesquisa
incluir nos critérios de avaliação a capacidade de articular raciocínios próprios e de sustentar posições com argumentos consistentes
*
para inspirar


o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
IV.
A arte de escreverO pensamento crítico só se consolida quando é transformado em conhecimento sistemático.
“ ”
Quando o pensamento se transforma num conjunto ordenado de significados, isso é conhecimento. (…) Quando eu coloco em ordem os pensamentos, eles produzem o conhecimento sistemático.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
A escrita e a fala, nesse processo, são ferramentas centrais.
“ ”
Escrever é uma forma de organizar. (…) A fala organiza de certa maneira, mas é efêmera, desaparece. A escrita não, ela permanece.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Dialetiza, precisa ter um dentro e fora, precisa despersonalizar, não sou só eu, tem o outro. Coloca em ação, no mundo, te tira dos vieses de confirmação, botar para fora é dialetizar com o mundo.
Psicanalista entrevistado, 2025
É na ordenação, seja pela escrita, seja pelo exercício discursivo, que o pensamento ganha permanência e consistência.
para organizar
separar um espaço fixo (físico ou digital) para anotar ideias, dúvidas, descobertas, pensamentos etc
*
*
começar a escrever, mesmo sem clareza ainda: a clareza surge justamente no ato de escrever
reler e reescrever
*
explicar ideias e pensamentos em voz alta, sozinho ou para alguém
*
*
quanto mais sistematizada a documentação (por exemplo em categorias por temas, ideias, autores, etc.), mais fácil fica de fazer relações e tomar decisões
para organizar dentro da sua empresa
incentivar o uso a escrita para pensar, promovendo diários de bordo e cadernos de processo como ferramenta de desenvolvimento
*
*
criar espaços de compartilhamento de aprendizados e reflexões após projetos, com sistematização escrita
*
promover oficinas de escrita crítica com foco em estruturação raciocínio, argumentação e clareza
criar espaços de publicação interna: boletins, blogs, zines ou plataformas onde colaboradores possam compartilhar textos autorais e experimentações
*
para inspirar


razão e ação, nossa rima preferida
V.
Agir conscientementePara o pensamento crítico deixar o campo das ideias e passa a ocupar o campo da prática, é preciso agir. Aplicar o conhecimento e o pensamento crítico não significa executar mecanicamente, mas agir com consciência de contexto, de valores e de consequências. O conhecimento ganha forma no mundo: nas decisões, nas estratégias, nas criações.
“ ”
A interpretação é uma atitude em que a pessoa aciona os seus pensamentos, os seus conhecimentos, para poder entender o outro. Então é o ponto de chegada.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
para agir conscientemente
treinar a ação consciente nas pequenas coisas: na forma como conduz uma conversa, define uma prioridade, escolhe uma palavra
*
a consciência nasce do olhar contextual
*
*
pensar antes de agir, mas agir pensando
*
equilibrar ritmo e intenção. Substituir o “tirar da frente” por “fazer sentido”
observar o espaço, as pessoas, os impactos possíveis
*
para agir conscientemente dentro da sua empresa
*
reunir times para fazer o exercício de interpretar dados, comportamentos e tendências para cada contexto e área
decidir com contextos humano, cultural e simbólico
*
*
revisar constantemente o automatismo organizacional da empresa
*
questionar processos, rotinas e propor mudanças
*
avaliar consequências, não só resultados
estabelecer rituais antes de executar uma ação para torna-la ainda mais consciente
*
*
treinar pensamento crítico como competência central dos colaboradores
para inspirar


de volta a si mesmo
As tecnologias processam com velocidade, ajudam a organizar e ampliam o alcance. Talvez, o papel mais valioso dela seja mesmo este: nos devolver tempo.
epílogo
As tecnologias processam com velocidade, ajudam a organizar e ampliam o alcance. Talvez, o papel mais valioso dela seja mesmo este: nos devolver tempo.
“ ”
A nossa competição com a IA é sobre performance. Isso só vai ser bom se nos devolver a nossa humanidade.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
Em um mundo cada vez mais rápido e inteligente artificialmente, a identidade está justamente no que é mais humano: parar, pensar, conversar, escrever, dar tempo ao tempo.
A profundidade humana retorna como contraponto à aceleração imposta pela tecnologia. E é assim que voltamos a nos encontrar e nos reconhecer como indivíduos únicos.
As identidades sem distinção são desafios social e educacional. Além de serem responsabilidade individual, também são responsabilidade do governo e das empresas.
Se você é uma marca e quer entender como fomentar pensamento crítico e identidade, chame a Página 3 para conversar.
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quem é você numa realidade maçante de identidades idênticas?
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Abordamos o conceito de identidade e como ela está se diluindo em uma sociedade de pessoas cada vez mais parecidas entre si.
Prólogo
Mais dos outros
No primeiro capítulo, damos luz àquilo que perdemos quando nos unificamos aos outros:
Primeiro capítulo
Menos de nós
I. menos cultura
II. menos espontaneidade
III. menos expressão
IV. menos sensibilidade
V. menos crítica
VI. menos responsabilidade
VII. menos lucidez
VIII. menos elos
No segundo capítulo, trazemos cinco recomendações para voltarmos a nos reconhecer e valorizar nossa própria identidade:
Segundo capítulo
Mais de nós
I. sopa de letrinhas para um cérebro faminto
II. desinflar o ego para inflar o conhecimento
III. a IA navega rápido, mas nós que estamos no comando
IV. o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
V. razão e ação, nossa rima preferida
Concluímos o estudo destacando a identidade humana como o principal contraponto ao mais do mesmo.
Epílogo
De volta a si mesmo

como fizemos este estudo
04 entrevistas em profundidade + review de artigos, vídeos e publicações online
Conversamos e ouvimos especialistas no assunto: psicanalistas, antropólogos, pesquisadores, professores, neurocientistas e filósofos.
1.
600 entrevistas, margem de erro = 4 p.p
Mapeamos a percepção dos brasileiros sobre o assunto e como eles se sentem em relação as suas identidades
2.
mais dos outros
conseguimos criar um egoísmo ao contrário, em que só temos olhos ao umbigo alheio
prólogo
É a partir dessa identidade que nos envolvemos coletivamente com um grupo, sentindo-se parte dele. Sentindo-se pertencente. A questão é que pertencer não significa parecer, ser igual.
E, quando olhamos ao nosso redor, o que vemos é mais do mesmo. Quando as experiências que vivemos e as memórias que criamos se tornam muito parecidas, nos tornamos todos iguais. Nos tornamos mais dos outros, menos de nós mesmos.
De acordo com o filósofo Clóvis de Barros, "a identidade é uma manifestação que permite ao seu enunciador (nós) circunscrever-se e estabelecer uma diferença específica com pretensões de permanência em relação ao que lhe é externo (os outros)."
Para esclarecer essa ideia, ele explica:
“todos nós, para existirmos em sociedade, precisamos dizer quem somos.”
“ ”
O que faz de nós, nós mesmos?Somos nós quem definimos quem somos. Está em nossas mãos. A nossa identidade é a construção de uma autoimagem, que fazemos em referência aos outros¹. São as experiências que vivemos e as memórias que criamos que definem quem somos, em cada momento das nossas vidas.
¹Definição Michael Pollak (1992)
dos brasileiros consideram que pensam e agem de forma parecida com o seu círculo social mais próximo.
51%
2
de nós concorda que, no passado, as pessoas eram mais autênticas e diferentes entre si.
63%
3
acham que estamos ficando cada vez mais parecidos entre si.
48%
4
P: O quanto considera que pensa e age de forma parecida com o seu ciclo social mais próximo?
2
P: No passado, as pessoas eram mais/menos autênticas e diferentes entre si?
3
P: Você acha que estamos cada vez mais ficando mais/menos parecidos entre si?
4
A identidade existe para que a gente possa nos compreender e nos reconhecer. Ainda reconhecemos quem somos ou do que realmente gostamos? Quais são os limites da fronteira entre humanos e robôs? Somos a extensão um do outro?Comemoramos as conquistas que os robôs ganham.
menos de nós
infelizmente demos ao termo “socialização” o pior dos sinônimos: a autoanulação.
capítulo 1
Cada vez que deixamos de viver experiências únicas, de sentir por nós mesmos, de criar memórias individuais, perdemos um pouco mais de nós.
Pouco a pouco, vamos nos tornando menos de nós mesmos.
I. menos cultura
II. menos espontaneidade
III. menos expressão
IV. menos sensibilidade
V. menos crítica
VI. menos responsabilidade
VII. menos lucidez
VIII. menos elos
Quando deixamos o controle do que consumimos na mão dos outros, nosso repertório cultural se restringe. As referências se tornam genéricas, insípidas, superficiais.
menos cultura
I.

Estamos entregues ao que vier, deixamos que pensem por nós, que escolham por nós. Aceitamos resignados essas imposições. Ficamos reféns da mesmice e enfraquecemos a nossa personalidade, nossos critérios e o nosso conhecimento cultural. Além disso, o igual reforça hierarquias raciais, de gênero, de classe, sob o disfarce da neutralidade.
“ ”
Uma vez, o etnólogo inglês Nigel Barley levantou a suspeita de que a ‘verdadeira chave do futuro’ reside em que ‘conceitos fundamentais como cultura deixariam de existir’. Seríamos, segundo Barley, ‘todos nós mais ou menos como turistas de camisa havaiana’. Será ‘turista’ o nome para ser humano após o fim da cultura?
Hiperculturalidade,Byung-Chul Hang, 2019
“ ”
É fundamental pensar de forma crítica para não se deixar levar pelo senso comum, divulgado pela mídia, se não você se torna uma pessoa sem espírito crítico.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
[sobre indústria cultural] Não se trata de fornecer o que o público deseja, mas de condicioná-lo a aceitar o que é ofertado, criando um ciclo vicioso de consumo e conformidade.
Leandro Rocha, professor e doutor em Filosofia, 2024


Ouvimos, lemos e consumimos uma espiral de repetições disfarçadas de novidade. Acreditamos estar criando coisas novas e diferentes enquanto, na verdade, nunca fomos tão previsíveis.
menos espontaneidade
II.

Caímos em um ciclo contínuo, em que criamos tecnologias que nos copiam para depois nós as copiarmos, até que já não saibamos mais quem está criando o que ou se algo está sendo criado. Quando consultamos as IAs, o que elas fazem é basicamente trazer uma solução perfeita. A mesma que foi entregue no dia anterior, a mesma que, naquele exato momento, está sendo entregue a outras milhares de pessoas. Estamos numa caverna tecnológica, funda e nada surpreendente. Se todos pensamos, criamos e agimos dentro dos mesmos parâmetros, perdemos a capacidade de imaginar diferente, projetamos e reproduzimos uma rotina previsível.
“ ”
O que significa então ser original? Se os algoritmos trabalham a partir de repositórios de textos já existentes, enquanto os humanos sempre reivindicaram para si a capacidade de criar o novo, o que significa inventar em um cenário de recombinação infinita?
Rodrigo Tavares para Folha, 2025
“ ”
A IA nada cria, nem sozinha nem em ‘colaboração’ com humanos; o que ela faz é certificar estatisticamente o texto para que sirva aos critérios de valor de um mundo regido pela eficiência quantitativa, pela velocidade e pela produtividade.
Daniel Galera, dentesguardados #35 Validação, 2025
“ ”
As histórias geradas por IA são mais semelhantes entre si do que as histórias escritas apenas por humanos. Esses resultados apontam para um aumento na criatividade individual, com o risco de perda da originalidade coletiva.
Doshi et al., Science Advances, 2024
O que os brasileiros preferem?
P. O que você prefere?
1
criar sozinho
23%
1

criar com outras pessoas
42%
1
criar com inteligências artificiais
36%
1



Nos tornamos, com o perdão da velha e oportuna expressão, uma vitrola quebrada. Nos tornamos o outro. O imprevisível perde espaço. O erro desaparece. A vulnerabilidade e o humor se esvaziam. Somos a perfeição morna, pior, cômoda e necessária. Quem diria, as IAs acabaram endossando algo que já viralizava no século passado: o clichê.
“ ”
Querem desmascarar robôs? Prestem atenção no tom genérico, nos lugares comuníssimos, nas metáforas mortas, no jogo de cintura de beque alemão, na ausência de humor, nas alucinações — e deixem o travessão em paz.
Sérgio Rodrigues para Folha, 2025
dos brasileiros responderam "sim, muito” quando questionados se já ouviram ou receberam mensagens que pareciam ter sido geradas por IA's.
49%
2
P: Na sua vida pessoal: já recebeu mensagens e/ou escutou frases que pareciam ter sido geradas por IA's?
2
“ ”
O ChatGPT tem um estilo peculiar. Ele escreve de forma competente, mas monótona. Há pouca variação na escrita e certas construções são repetidas com frequência.
Philip Seargeant, professor de Linguística Aplicada na Open University, 2025


tradução: As pessoas respondem a conteúdos que sejam ‘AUTÊNTICO’, ‘VERDADEIRO’ e ‘HUMANO’. Então vamos incluir essas palavras nos nossos prompts de IA.
Quanto mais delegamos para os outros descobrirem e fazerem por nós, mais nos acostumamos a isso. Ficamos ocupados apenas em nascer e morrer. Economizamos minutos ou horas do nosso dia pedindo isso, pedindo aquilo, mas nunca estivemos tão sem tempo. A conta não fecha. Perdemos a capacidade de pensar sozinhos. Agimos no automático e, no final do dia, nem sabemos o que fizemos.
“ ”
As pessoas não querem pensar, o corpo faz de tudo para não ter que pensar (...) Temos uma tendência de buscar conforto, é o princípio do prazer.
Psicanalista entrevistado, 2025
de nós assume que costuma pedir ajuda ou consultar IA's para conversar e/ou escrever para outras pessoas no âmbito pessoal.
63%
3
P: Você costuma pedir ajuda ou consultar IA's (como ChatGPT) para conversar e/ou escrever para outras pessoas no âmbito pessoal?
3
“ ”
O meu grande receio, como a mente humana, o cérebro humano é um grande camaleão e ele se adapta a toda sorte de contextos e circunstâncias que o mundo lhe oferece para sobreviver, se o nosso mundo se transformar todo aqui fora e viver sob a lógica digital, o cérebro humano vai se adaptar a ele. Então, nós vamos reduzir a nossa capacidade cognitiva, intelectual e inteligência ao nível dos sistemas digitais. É por isso que eu posso dizer que nós estamos caminhando rapidamente para criar milhões de zumbis digitais.
Miguel Nicolelis para ONU News, 2025


"Print de conversa no whatsapp”
Que legal, eu não sabia disso. Como você descobriu?
Ah, eu vi num post
Seria o comodismo o preço da ingenuidade?Não apenas nos alimentamos de desinformações, como passamos a contribuir na construção de uma sociedade desinformada. O caminho que nos leva até os fatos se torna longo, e somos vencidos pela preguiça. Além disso, ficamos suscetíveis à manipulação e parecemos não nos importar com isso. Convenientemente coniventes.
“ ”
A desvantagem de construir agentes que tornam os humanos inúteis é que os humanos se tornam de fato inúteis e a IA slop - o conteúdo de baixa qualidade gerado pela IA - torna-se onipresente.
Andrej Karpathy, cofundador da OpenAI, 2025
“ ”
Ele vai moldando realmente o pensamento, tanto que a gente tem começado a ter isso na clínica. Existem casos graves de psicotização por causa do ChatGPT. Então, paciente que já não era muito lúcido, aí, mistura às vezes com droga, passa a madrugada falando com o ChatGPT, o cara sai no outro dia achando que ele é Cristo reencarnado.
Psicanalista entrevistado, 2025


Se nos escondemos atrás do algoritmo, ficamos ilesos. Se nos acomodamos na desinformação, por que assumiríamos essa responsabilidade? E se todos se tornam irresponsáveis pelas próprias ações e atitudes, quem se responsabiliza? A noção de responsabilidade precisa ser resgatada a fim de mantermos uma sociedade moralmente ética. Mas para isso seria necessário bom senso, coisa que a IA talvez não ensine.
“ ”
Já existem muitas pesquisas que mostram que as pessoas estão mais dispostas a agir de forma antiética quando conseguem se distanciar de suas ações, e delegar é uma maneira clássica de fazer isso.
Zoe Rahwan, pesquisadora do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, 2025
“ ”
Mas nos deparamos com uma segunda descoberta fundamental que nos surpreendeu: a enorme disposição dos agentes de IA em obedecer a ordens flagrantemente antiéticas.
Zoe Rahwan, pesquisadora do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, 2025


Tudo confirma o que já pensamos, porque é exatamente isso que esperamos, é exatamente isso o que programamos, é exatamente isso o que queremos. A cada resposta, nossa autoconfiança cresce e a sensação de sabermos tudo aumenta. Então, nosso critério desaparece. Criamos nosso reinado e nos nomeamos reis e rainhas. E quanto mais somos aplaudidos pelas máquinas (que foram educadas para nos agradar), mais acreditamos em nossa própria genialidade e nos fechamos para os outros, para o mundo e para evoluirmos como seres humanos.
“ ”
Todo mundo gosta de ficar debatendo pensamento e isso gera uma ilusão de inteligência. O tiozão do ZAP. Para mim, o que considero pior é que o ChatGPT é intencionalmente programado para agradar a gente.
Psicanalista entrevistado, 2025

A consequência de nosso relacionamento mais intenso com IAs do que com pessoas é iminente: nos afastamos da vida real. E isso gera solidão. Desenvolvemos uma sentimento de abandono que pode ser irreversível. Nos isolamos em uma ilha impessoal, rica em tecnologia, mas fria em sentimentos e em experiências humanas.
“ ”
Vemos a tecnologia ‘sequestrando’ pessoas da sociedade. Meu maior medo da IA é que os jovens mais talentosos acreditem que podem ter uma vida só interagindo com uma tela e algoritmos. É preciso encarar o mundo complicado, frustrante e difícil que é a vida.
Scott Galloway, Hotmart Fire 2025
“ ”
Os vínculos interpessoais, outrora fundamentados na solidariedade e na cooperação, são progressivamente corroídos por uma lógica de curto prazo e descartabilidade, onde o sucesso [no trabalho] é medido exclusivamente pela eficiência e adaptabilidade individual. (...) Corremos o risco de um futuro marcado pela solidão, pela alienação e pela perda total da humanidade.
Thyago Simões, Fantasma da Inteligência Artificial e os desdobramentos do neoliberalismo, 2024
de nós prefere conversar com IA's do que com pessoas para tomar decisões.
49%
4
P. Conversar com as IA's para tomar decisões é: Melhor/pior do que conversar com outra pessoa.
4

o vaivém das mesmas cores, dos mesmos sabores, a dança solitária de uma valsa de uma nota só
Quando nos deixamos levar pelas facilidades das novas tecnologias que compõem o atual cenário em que vivemos, trapaceamos a parte mais valiosa que existe: nós mesmos. Quando terceirizamos aos outros nossas mensagens, conteúdos, expressões e nossa própria vida, tentamos, sem perceber, driblar nossa subjetividade humana, nossas emoções e nossos sentimentos. Deixamos de nos ouvir, de nos entender, de sentir. Perdemos a noção de quem somos.
“ ”
A inteligência artificial, especialmente a generativa, abriu novos horizontes a muitos níveis diferentes, entre os quais a melhoria da investigação no domínio da saúde e os progressos científicos, mas também apresenta questões preocupantes sobre as suas possíveis repercussões na abertura da humanidade à verdade e à beleza, sobre a nossa particular capacidade de compreender e elaborar a realidade.
Papa Leão, 2ª Conferência sobre IA no Vaticano, 2025
Muitas vezes inconsciente, outras não, fincamos bandeira neste mundo perfeito como fuga e acabamos perdendo o gosto de conversar e de superar desafios ou problemas, principalmente porque não sabemos como fazê-lo ou porque realmente não queremos.
“ ”
Quando a gente tá imerso no padrão, a gente tem dificuldade de enxergar. O padrão gera pontos cegos e pontos surdos. Quem tá muito dentro do padrão tem dificuldade em ver a realidade.
Psicanalista entrevistado, 2025
Quando os algoritmos e as IAs nos conhecem melhor que nós mesmos, somos nós que nos tornamos robôs. E não os robôs que se tornaram humanos. Acabamos nos entregando comodamente às rédeas tecnológicas. É uma prisão desejada, sem prazo pra terminar e sem direito à fiança.
Se o futuro aponta para uma delegação ainda maior - com a entrada dos agentes de IA em nossas vidas - se seguirmos como estamos, nos afastaremos ainda mais de nós mesmos e de quem somos. Nosso legado deixa de existir. Seremos vampiros cibernéticos, sem sombra e sem imagem refletida no espelho.
IA agêntica
IA generativa
redes sociais
internet
Linha do tempo de nossas identidades
“ ”
Agentes de IA geram uma falsa sensação de conforto e facilidade. Questioná-los parece absurdo, mas sua ‘conveniência’ esconde alienação. (...) Estamos em um jogo de imitação que, no fim, nos manipula
Kate Crawford, pesquisadora na Microsoft Research, 2025
Quando todos são iguais, a identidade perde a forma e, com ela, o pensamento.
Se somos mais do mesmo, deixamos de evoluir enquanto sociedade. Perdemos relevância enquanto indivíduos. Perdemos a capacidade de reconhecer quem somos.
É preciso mais do que vontade para quebrar o looping, é preciso coragem, é preciso ação, antes que seja tarde.
mais de nós
voltar a se reconher é a batalha mais árdua que existe, aceitar a derrota é o primeiro passo para vencer a si mesmo
capítulo 2
Como libertar a própria identidade do cativeiro?Desafiar o padrão e sair dessa entrega não é natural, é um esforço consciente. Desconfortável. Lembrar que o desconforto é o spoiler de uma conquista grandiosa será um grande aliado. Quanto mais seguimos padrões, mas criamos padrões. Invertamos, criemos ou recuperemos os padrões benéficos a este sucesso. Ter a consciência de quão saboroso é recuperar uma autoconfiança genuína é a vitória silenciosa: a mais saborosa das conquistas.
O que significa ser mais de nós?Ser você mesmo não significa se opor aos outros (tão pouco virar um dissidente digital), mas sim conseguir agir e pensar sem depender dos outros (humanos ou robôs). O coletivo precisa de indivíduos críticos para não se tornar um rebanho cego. E o indivíduo precisa do coletivo para não perder o sentido no seu isolamento.
A notícia boa é que 72%¹ dos brasileiros gostariam de ser mais diferentes dos outros.
P: Você gostaria de ser mais diferente dos outros ou autêntico(a)?
1
Conversamos com especialistas e autores do mercado para desenhar como conseguimos sair dessa escuridão e nos reconhecermos de volta.
I. sopa de letrinhas para um cérebro faminto
II. desinflar o ego para inflar o conhecimento
III. a IA navega rápido, mas nós que estamos no comando
IV. o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
V. razão e ação, nossa rima preferida
sopa de letrinhas para um cérebro faminto
I.
Pensar é inevitável“Penso, logo existo.”
Pensar é inevitável: ao nos depararmos com dados, matérias, informações, relatos ou reportagens, pensamos de imediato, é impossível lutar contra isso.
“ ”
O ponto de partida é o seu pensamento, a maneira como ele, com a sua educação, com seus estudos, com a sua formação, vê o mundo. É um pouco a sua ideologia ou a sua cosmologia.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
E toda vez que pensamos em alguma coisa, pensamos a partir do nosso repertório.
“ ”
Repertório é tudo o que a gente consegue registrar do que a gente viveu.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
“ ”
O repertório é o conjunto das informações que você tem, que pode ser mais rico ou menos rico, dependendo da maneira como você se relaciona com o conhecimento, com os fatos, com a ciência, com as leituras, com os autores. O repertório é um conjunto de informações.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
Quanto mais rico for o nosso repertório, mais ferramentas temos para julgar informações e formar interpretações pessoais e únicas.
apenas 36%² de nós acha que os brasileiros tem repertório amplo.
P. Como você avalia a amplitude do repertório dos brasileiros, no geral?
2
“ ”
Quanto mais rico o repertório, mais condições que a gente tem de fazer, digamos, um pensamento crítico. Se tiver um repertório muito limitado, a gente termina dizendo as mesmas coisas o tempo todo.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
É diferente quando o repertório começa a incluir memórias, experiências pessoais. Essas coisas não são tão fáceis de fazer com uma base de dados. Minha paciente vai colocar uma base de dados de todos os namorados? A tendência hoje é que todas as coisas sejam decididas com base em dados. Só que muito do valor agregado, que impacta mesmo é o quanto o seu repertório inclui materiais não computadorizáveis.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Quanto maior e mais estruturado o repertório, melhor a performance cognitiva, a adaptação e o julgamento em contextos novos.
Cattell, 1963; Horn, 1985; Baltes & Lindenberger, 1997
para ampliar
o seu repertório
*
consumir com intenção e presença
consumir conteúdos e perspectivas diversas
*
questionar, duvidar
*
autoatualização constante
*
ampliar e diversificar o repertório não é decorar coisas novas, mas pensar e refletir sobre o conhecimento adquirido e conectar com o que já sabe
*
variar entre fontes de informação mais extensas (livros, filmes, séries, podcasts longos, estudos científicos) e imediatas (redes sociais, vídeos curtos)
*
para ampliar o repertóriodentro da sua empresa
*
criar newsletters internas, clubes ou mostras com conteúdos que conectem temas aparentemente distantes (arte e tecnologia, filosofia e negócios etc.)
incentivar projetos paralelos dentro da empresa, nos quais se possa testar ideias fora do escopo de trabalho
*
reservar momentos na agenda em que pessoas possam assistir a uma palestra, ler ou explorar novas ideias sem culpa produtiva
*
ter benefícios culturais: convênios com museus, cinemas, escolas de arte, universidades, festivais ou plataformas de cursos
*
para inspirar


desinflar o ego para inflar o conhecimento
II.
O encontro com o outroO pensamento isolado é fragmentado e enviesado. Para se transformar em pensamento crítico, ele precisa se abrir ao confronto. A crítica exige abertura para outras ideologias e sistemas de conhecimento.
“ ”
Se eu ficar só com o meu pensamento, eu não tenho pensamento crítico. (…) Para que ele seja crítico, eu tenho que contrastá-lo com outros pensamentos que sejam, digamos, de uma outra perspectiva ideológica ou filosófica.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Sem o outro, eu imponho o meu pensamento, o meu sistema.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
Esse “parar para pensar” de forma dialógica é justamente o que permite escapar dos vieses de confirmação.
“ ”
Computador não para e pensa, ele faz no automático, o chatGPT, por exemplo, não consegue entender tempo. Parar para pensar é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico, e só o ser humano sabe perceber tempo.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Se você soma uma cor com outra cor sempre sairá uma nova cor. Nenhuma cor fica ilesa ao encontro com outro.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
dos brasileiros sentem que está cada vez mais difícil conversar e se relacionar com os outros
76%
3
P: Com qual das frases abaixo você mais concorda? Está cada vez mais fácil/difícil conversar e se relacionar com os outros.
3
P: Sinto que existe espaço para pensar diferente na sociedade atual em que vivemos
4
1/4
4
sentem que não existe espaço para pensar diferente na sociedade atual em que vivemos
para dialogar
*
pensar e debater ideias coletivamente, em grupos ou rodas de conversa
escuta ativa e sem preconceitos
*
ouvir o diferente
*
converse com pessoas fora do círculo mais afetivo, a crítica externa obriga o pensamento a se abrir e sair do próprio viés
*
expor opiniões e pensamentos de forma respeitosa
*
“ ”
Ouvir o outro e levar a sério o que eles dizem.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Escutar e não julgar se esta certo ou errado.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Dar, receber, retribuir.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
para dialogar dentro da sua empresa
*
formar grupos de trabalho e comitês com pessoas de diferentes departamentos e cargos para ampliar perspectivas
promover encontros, conversas, clubes de discussão para estimular o embate de ideias e pontos de vista
*
parcerias com empresas de setores diferentes ou ONGs para co-criar soluções de negócio
*
ter facilitadores ou programas de mediação que ajudem grupos a lidar com conflitos de ideias de modo construtivo
*
criar programas de mentorias interdisciplinares para colocar profissionais de áreas diferentes dentro da própria empresa para trocas informais
*
P. Como você avalia as conversas que tem com as pessoas do seu trabalho?
5
das pessoas acham que as conversas no trabalho estão cada vez mais irrelevantes
31%
5
para inspirar



a IA navega rápido mas nós que estamos no comando
III.
Tempo para aprofundarQuando a lógica do mercado espera performance, velocidade e produtividade, sobra pouco espaço para o discernimento. A interpretação crítica é obrigada a ceder espaço para a superficialidade. Mas profundidade exige outra lógica. Profundidade exige tempo. Pensamento crítico exige tempo.
“ ”
Pensamento critico é um processo. Quando o tempo é muito curto, ele nao chega na essência das coisas.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
Pensamento devagar, parar e pensar. Computador não para e pensa, ele faz no automático, chatGPT não consegue entender tempo. Parar para pensar é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico, e só o ser humano sabe perceber tempo.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
O ‘parar para pensar’ é abrir a possibilidade de ter pensamento crítico.
Psicanalista entrevistado, 2025
“ ”
A IA é tão boa que quer deixar de ser ferramenta. E isso é perigoso. Essa demanda por uma produtividade sem freio pode atropelar o tempo necessário da criação.
Sérgio Rodrigues, 2025
para respeitar o tempo
*
reservar espaços na rotina sem reuniões, notificações ou estímulos externos que dispersam
criar rituais de pausa na rotina
*
antes de responder ou decidir algo importante, perguntar-se se o tempo para a crítica foi o suficiente
*
delimitar o consumo de informação: menos volume, mais profundidade
*
para respeitar o tempo dentro da sua empresa
incentivar que decisões estratégicas passem por etapas de análise, contraponto e revisão antes da conclusão
*
treinar colaboradores para leitura crítica de dados e informações, incentivando que as equipes questionem a primeira ideia ou a primeira sugestão da IA
*
*
criar margens de respiro nos cronogramas de projetos, permitindo que as ideias amadureçam antes da execução
*
legitimar o não saber imediato e o tempo de pesquisa
incluir nos critérios de avaliação a capacidade de articular raciocínios próprios e de sustentar posições com argumentos consistentes
*
para inspirar


o vício em pensamento crítico nos torna dependentes da cultura
IV.
A arte de escreverO pensamento crítico só se consolida quando é transformado em conhecimento sistemático.
“ ”
Quando o pensamento se transforma num conjunto ordenado de significados, isso é conhecimento. (…) Quando eu coloco em ordem os pensamentos, eles produzem o conhecimento sistemático.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
A escrita e a fala, nesse processo, são ferramentas centrais.
“ ”
Escrever é uma forma de organizar. (…) A fala organiza de certa maneira, mas é efêmera, desaparece. A escrita não, ela permanece.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
“ ”
Dialetiza, precisa ter um dentro e fora, precisa despersonalizar, não sou só eu, tem o outro. Coloca em ação, no mundo, te tira dos vieses de confirmação, botar para fora é dialetizar com o mundo.
Psicanalista entrevistado, 2025
É na ordenação, seja pela escrita, seja pelo exercício discursivo, que o pensamento ganha permanência e consistência.
para organizar
separar um espaço fixo (físico ou digital) para anotar ideias, dúvidas, descobertas, pensamentos etc
*
*
começar a escrever, mesmo sem clareza ainda: a clareza surge justamente no ato de escrever
reler e reescrever
*
explicar ideias e pensamentos em voz alta, sozinho ou para alguém
*
*
quanto mais sistematizada a documentação (por exemplo em categorias por temas, ideias, autores, etc.), mais fácil fica de fazer relações e tomar decisões
para organizar dentro da sua empresa
incentivar o uso a escrita para pensar, promovendo diários de bordo e cadernos de processo como ferramenta de desenvolvimento
*
*
criar espaços de compartilhamento de aprendizados e reflexões após projetos, com sistematização escrita
*
promover oficinas de escrita crítica com foco em estruturação raciocínio, argumentação e clareza
criar espaços de publicação interna: boletins, blogs, zines ou plataformas onde colaboradores possam compartilhar textos autorais e experimentações
*
para inspirar


razão e ação, nossa rima preferida
V.
Agir conscientementePara o pensamento crítico deixar o campo das ideias e passa a ocupar o campo da prática, é preciso agir. Aplicar o conhecimento e o pensamento crítico não significa executar mecanicamente, mas agir com consciência de contexto, de valores e de consequências. O conhecimento ganha forma no mundo: nas decisões, nas estratégias, nas criações.
“ ”
A interpretação é uma atitude em que a pessoa aciona os seus pensamentos, os seus conhecimentos, para poder entender o outro. Então é o ponto de chegada.
Antropólogo e professor entrevistado, 2025
para agir conscientemente
treinar a ação consciente nas pequenas coisas: na forma como conduz uma conversa, define uma prioridade, escolhe uma palavra
*
a consciência nasce do olhar contextual
*
*
pensar antes de agir, mas agir pensando
*
equilibrar ritmo e intenção. Substituir o “tirar da frente” por “fazer sentido”
observar o espaço, as pessoas, os impactos possíveis
*
para agir conscientemente dentro da sua empresa
*
reunir times para fazer o exercício de interpretar dados, comportamentos e tendências para cada contexto e área
decidir com contextos humano, cultural e simbólico
*
*
revisar constantemente o automatismo organizacional da empresa
*
questionar processos, rotinas e propor mudanças
*
avaliar consequências, não só resultados
estabelecer rituais antes de executar uma ação para torna-la ainda mais consciente
*
*
treinar pensamento crítico como competência central dos colaboradores
para inspirar


de volta a si mesmo
As tecnologias processam com velocidade, ajudam a organizar e ampliam o alcance. Talvez, o papel mais valioso dela seja mesmo este: nos devolver tempo.
epílogo
As tecnologias processam com velocidade, ajudam a organizar e ampliam o alcance. Talvez, o papel mais valioso dela seja mesmo este: nos devolver tempo.
“ ”
A nossa competição com a IA é sobre performance. Isso só vai ser bom se nos devolver a nossa humanidade.
Psicanalista, professora e pesquisadora entrevistada, 2025
Em um mundo cada vez mais rápido e inteligente artificialmente, a identidade está justamente no que é mais humano: parar, pensar, conversar, escrever, dar tempo ao tempo.
A profundidade humana retorna como contraponto à aceleração imposta pela tecnologia. E é assim que voltamos a nos encontrar e nos reconhecer como indivíduos únicos.
As identidades sem distinção são desafios social e educacional. Além de serem responsabilidade individual, também são responsabilidade do governo e das empresas.
Se você é uma marca e quer entender como fomentar pensamento crítico e identidade, chame a Página 3 para conversar.
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mais dos outros
P
menos de nós
01
mais de nós
02
de volta a si mesmo
E
Um estudo da página3 para voltarmos a pensar por conta própria e nos reconhecer em uma multidão de todo mundo.
Em que momento começamos a nos expressar e a falar igual o ChatGPT, com frases curtas, pragmáticas, vazias e sem alma? Perdemos nosso sotaque e nosso jeito único de se expressar e eliminamos lentamente em nossa fala qualquer traço de emoção e verdade.
menos expressão
III.

Se não temos um minuto para pensar em uma resposta do WhatsApp, para formular um e-mail, para escolher um presente, ainda temos tempo para pensar?
menos sensibilidade
IV.

Desinformação ou ingenuidade conveniente? Acreditamos cegamente ou só estamos com preguiça de duvidar? É mais fácil aceitar sem questionar, mas pagamos um preço alto por isso, coletiva e pessoalmente.
menos crítica
V.

O ciclo de delegar pensamentos e ações naturalmente nos vicia na isenção de nossas responsabilidades.
menosresponsabilidade
VI.

A necessidade do outro se esvazia quando acreditamos, equivocadamente, que já temos tudo o que precisamos de forma mais prática e fácil sem ter que pedir conselhos, dicas, instruções, informações e até mesmo afeto.
menoselos
VIII.

Nunca estivemos tão empoderados intelectualmente pela ilusão da produtividade e pelo excesso de validação que a inteligência artificial nos oferece. Nos descolamos da realidade.
menoslucidez
VII.
